O Instituto Curicaca realizou, no dia 25 de junho, uma reunião no Instituto de Biociências da UFRGS para discutir os resultados da Avaliação Ecológica Rápida (AER) da região do Rio Forqueta, nos municípios de Arvorezinha e Soledade (RS), iniciada no final de 2016. A área abriga o sapinho-admirável-de-barriga-vermelha, espécie endêmica e ameaçada de extinção. O projeto da AER, que é apoiado pela Fundação Grupo Boticário, objetiva descobrir se a região onde o sapinho habita merece ou não receber esforços mais amplos de conservação. Dentre os participantes do encontro estavam técnicos e pesquisadores do Curicaca, da Fundação Zoobotânica e do Instituto de Biociências.
De um modo geral, os resultados foram bastante enriquecedores e reforçam a importância das florestas da microbacia hidrográfica do Perau do Janeiro para a conservação da biodiversidade mundial. Eles apontaram a ocorrência de duas espécies de árvores ameaçadas: o cedro-cheiroso (Cedrela odorata) e a palmeira Trithrinax acanthocoma, ambas muito raras. Os especialistas em anfíbios suspeitam de possíveis endemismos caso se confirme a possibilidade de descrição de novas espécies. Os ornitólogos ficaram mais fascinados com a riqueza das aves campestres encontradas em alguns remanescentes de campos nativos junto às nascentes na região do Planalto.
Esse levantamento de informações foi muito esclarecedor, mas ainda precisamos fazer novas pesquisas. É necessário que os especialistas que participam dos estudos se aprofundem um pouco mais, recolhendo outras informações sobre as espécies que lá habitam. O próximo passo é, então, organizar uma nova expedição de pesquisa para fazer o levantamento de mamíferos e de plantas epífitas em ambiente florestal, e de anfíbios e répteis em ambientes campestres. A coordenadora técnica do projeto e bióloga do Curicaca, Michelle Abadie, prevê que essa nova saída de pesquisa será feita durante a primavera.
Como foi a experiência de campo do AER?
A Bruna Arbo Meneses, bióloga do Curicaca e membro da equipe do projeto nos conta:
"A região do rio Forqueta abriga esse sapinho da foto, e, de todos os lugares do mundo, ele só ocorre lá. Por isso, entre outras razões, é importante conhecer esse ambiente onde a espécie está interagindo. Os resultados mencionados nessa matéria saíram, em parte, de uma saída de campo que organizamos com 3 disciplinas de graduação da Biologia (UFRGS) simultaneamente.
Pessoalmente, foi uma das saídas (e segue sendo um dos projetos) mais enriquecedoras das quais eu já participei. Foram 3 dias de 'levanta antes do sol, passa o café', 'todo mundo fez sanduba pra levar de almoço?' e espera enquanto os alunos, professores e monitores percorriam as áreas que tínhamos definido. As horas passaram relativamente rápido imaginando se tava todo mundo bem, pensando em que bichos seriam encontrados, 'socorro, essa nuvem, será que vai chover?'. E lá pelas tantas choveu real. E um monte de gente fez coisas que nunca tinha feito. E sentiu medo; mas seguiu, mesmo levando o medo junto. Eu me vi ansiosa pela volta de todos, ansiosa pra ouvir as histórias no fim do dia. Foi o campo que eu menos saí da cabana mas que me fez conhecer mais áreas, porque foi uma baita oportunidade de descobrir a região através das histórias."
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