A experiência bem sucedida do Instituto Curicaca com a conservação e uso sustentável do butiá-da-praia, no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, foi levada pela Fundação Luterana de Diaconia – FLD – para o município de Quaraí, no Pampa. O agrônomo Alexandre Krob foi convidado para conduzir uma oficina de avaliação e planejamento da conservação do Butia quaraimana, espécie endêmica que só ocorre numa pequena bacia hidrográfica onde aflora o arenito Botucatu. Uma avaliação preliminar da situação do ecossistema e o encontro com a comunidade local aconteceu nos dias 25 e 26 de novembro.
Com a ajuda da EMATER de Quaraí, que introduziu o artesanato com palha de butiá na região há alguns anos trás, foram visitadas algumas propriedades da região e estabelecido o primeiro contato com os moradores. A EMATER também fez o chamamento para a oficina, que contou com a presença de cerca de 30 pessoas. A maior preocupação dos participantes é com restrições que possam ser estabelecidas à pecuária na região, já que o gado bovino e ovino pasteja sob os butiazais. Portanto, parte do tempo foi dedicada a demonstrar que a proposta é ajudar na construção de formas sustentáveis para essa relação.
Na maior parte da área os remanescentes de butiazais são constituídos por indivíduos antigos dispostos na forma de um “paliteiro” em meio aos potreiros onde é colocado o gado, semelhante ao que acontece em Castillos, no Uruguai, e em Tapes. É bastante raro encontrar-se indivíduos jovens, ou seja, a população está se tornando senil. Com o tempo, o que ainda pode demorar bastante já que o butiazeiro é uma espécie longeva, os indivíduos velhos acabarão sendo derrubados pelas tempestades sem que haja reposição. É possível encontrar plantinhas novas, o que mostra que a população é reprodutivamente viável, mas estas não se desenvolvem porque são ou consumidas ou pisoteadas pelo gado. As raras exceções precisam ser mais bem compreendidas.
A iniciativa da Fundação ainda terá novos capítulos dentro do Projeto Pampa (saiba mais), no qual deve ser iniciada uma pesquisa para melhor entender a interação do gado com o butiazal e apoiar o planejamento de alternativas econômicas compatíveis, como na apicultura e na produção de mudas. Daí também surgiu o início de mais uma cooperação entre o Instituto Curicaca e a Fundação Luterana, que deverão estar construindo estratégias conjuntas de atuação socioambiental com a comunidade dos butiazais de Quaraí.
ERRATA: Butia quaraimana é o mesmo Butia yatay
No dia sete de janeiro, publicamos uma matéria sobre o butiazal de Quaraí, sua situação atual, potencialidades e parceria do Instituto Curicaca com a Fundação Luterana de Diaconia para sua conservação e uso sustentável. Nos referimos à espécie como sendo endêmica, o que se trata de um equívoco. Nossa atenção para o erro foi chamada pelo botânico Martin Molz, que coordenou a revisão das palmeiras para a nova Lista de Espécies da Flora Ameaçada no Rio Grande do Sul.
Segundo Martin, o Butia quaraimana trata-se, na verdade, de uma sinonímia do Butia yatay, que ocorre em algumas outras áreas do Rio Grande do Sul e também no Uruguai. Lamentamos o erro, que pode ter alimentado uma falsa realidade para a biodiversidade da região.
Ressaltamos, porém, que as características daquela população são peculiares e que, mesmo não se tratando de espécie endêmica, uma atenção especial ao butiazal de Quaraí é necessária, já que se encontra em uma área de isolamento genético. Como está sob pastorei ovino e bovino, sem ações de manejo poderá acarretar em dificuldades para a sua viabilidade futura naquela área.
Para os moradores da região, os aspectos científicos não mudam em nada o reconhecimento popular de que estamos falando do butiá-de-quaraí, cujos frutos, segundo os criadores, conferem um gosto único e muito especial à carne de ovelha criada ali.
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