Causos da onça-pintada. Esse foi o tema da troca de saberes organizada pelo Instituto Curicaca dentro da Semana da Onça, que ocorreu em parceria com o Parque Estadual do Turvo (Sema/RS), do Parque Nacional de Iguaçu (ICMBio) e a Prefeitura de Derrubadas. O diálogo entre técnicos e membros da comunidade faz parte da “Ação cultural de criação saberes e fazeres”, metodologia própria de educação ambiental desenvolvida e aplicada pelo Curicaca. No auditório do Parque, em círculo, a troca reuniu a médica veterinária Caroline Gomes (Sema/RS), o agricultor e empresário Delmir Anklam, o biólogo Jan Mähler Jr. (Sema/RS) e o vereador e ex guarda-parque Erno Bonn. A troca foi “Coisa linda de ver e de ouvir!”
Para iniciar e provocar o debate, Caroline trouxe informações sobre as duas espécies de onça que ocorrem no Turvo, a pintada e a parda, e sobre o que fazer quando ocorrer um evento de interação com alguma delas dentro ou fora do Parque, sempre lembrando da importância da conservação destes animais ameaçados de extinção. Para as propriedades vizinhas, recomendam-se ações preventivas, como o uso de luz, som forte e estridente se ela está rondando, recolhimento da criação à noite e controle para que não durmam na mata, por exemplo. Nas trilhas, onde é praticamente impossível encontrar a onça, que tem muito medo de gente, caso ocorra o inusitado a pessoa deve agir calmamente. Não deve virar de costa e correr, nem olhar fixamente para o animal, deve tentar parecer maior do que é abrindo um casaco ou erguendo os braços e ir recuando lentamente.
Erno pegou o gancho e saiu contando sobre seus encontros com a onça. Certa vez, lá estava ela, sentada na estrada de barriga cheia após uma boa refeição, totalmente despreocupada. Ele esperou bastante tempo para poder passar e até se arriscou, pensando nas recomendações de Caroline. Quando estava em território das onças, sempre tinha cuidado ao abaixar para beber água mantendo uma árvore às costas e que pudesse protegê-lo. O ex guarda-parque não relatou nenhum ataque de onça a pessoas nesses tantos anos que trabalhou no Parque, o que está de acordo com o que a veterinária disse: “a onça só atacará uma pessoa em defesa própria, se for atacada primeiro, ou se estiver protegendo os filhotes”. Outra recomendação de Caroline é que, caso ocorra um encontro, a pessoa tente perceber se não esta entre a mamãe onça e seus filhotes e, nesse caso, ir saindo para o lado e se afastando deles.
Um encontro maravilhoso foi entre Jan e Delmir. Depois de um forte abraço, os dois contaram que estiveram juntos na captura de uma onça-pintada que aconteceu na propriedade da família Anklan. A onça começou a atacar os cachorros para alimentar-se deles e criou o hábito. Um após o outro os cachorros eram comidos. Foi daí que pediram ajuda ao Parque. Primeiro, seguindo as orientações dos biólogos, os agricultores usaram lâmpadas e fogos de artifício, primeiro deu certo, mas depois não deu. Caroline esclareceu que é preciso alternar as ferramentas de afugentamento, senão a onça acostuma. Também recomendou pra não deixar um cachorro sozinho, que se mantenham pelo menos cinco e dos grandes. Jan e o biólogo Peter Crawshaw Jr., junto com os guarda-parques, montaram uma gaiola e capturaram a onça. Ela foi solta dentro do Parque num lugar bem distante. Há quem diga que a onça voltou, mas não se dá certeza. Jan lembrou que na época não havia dinheiro colocar no animal um colar que manda sinais informando sua localização, então não foi possível monitorar o que houve.
Gostou? Já estamos planejando a próxima troca de saberes com mais causos da onça-pintada. Fique ligado!
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