Entidades da sociedade civil, órgãos governamentais e pesquisadores se reuniram no último dia 16 de janeiro na Fundação Luterana de Diaconia (FLD) com o intuito de discutir ações de conservação para o Pampa, bioma que originalmente corresponde a 63% do território gaúcho. A FLD apresentou um relatório do Projeto Pampa, trabalho realizado ao longo de 2013 em 12 municípios da fronteira oeste do Rio Grande do Sul junto às comunidades locais, visando a valorizar práticas e saberes tradicionais.
Segundo Alexandre Krob, coordenador técnico do Instituto Curicaca presente na reunião, o encontro teve a importância de reunir, mesmo que brevemente, esforços que se encontram dispersos, e pode ser um primeiro passo no planejamento de ações integradas para 2014. “Há muitas pessoas hoje trabalhando pelo reconhecimento do Pampa, no entanto, as ações vem ocorrendo de forma isolada, ora da academia, ora de governos, ora de ONGs. Precisamos fortalecer o que já existe e promover uma política sustentável para o bioma que seja de cooperação múltipla e tenha o meio ambiente, as comunidades locais e sua cultura com valores fundamentais”, defende Krob. Um Seminário promovido pela FLD já está marcado para o final de fevereiro para que as discussões continuem.
A última avaliação sobre o estado de degradação do Pampa, feita em 2008 pelo IBAMA, apontava a presença de apenas 36% de cobertura com vegetação nativa, ou seja, pouco mais de 1/3 da área original, o que o enquadra como o segundo bioma mais ameaçado do país, depois da Mata Atlântica. Além do avanço das lavouras de monocultura, do crescente plantio de pinus sem o devido licenciamento ambiental, da construção de barragens (Jaguari e Taquarembó), uma parte do Pampa vem sendo desvalorizada por processos de arenização natural acelerados pela degradação ambiental. Hoje já existem propostas de que sejam criados Unidades de Conservação em areais de São Francisco de Assis e Quaraí.
Em termos de biodiversidade, o Pampa apresenta cerca de 2 mil e 500 espécies de plantas vasculares, aproximadamente 450 gramíneas e 150 leguminosas, cerca de 70 tipos de cactos, pelo menos 385 espécies de aves, 90 mamíferos terrestres, além de répteis e insetos, conforme pesquisa realizada pela UFRGS.
O levantamento empreendido pela FLD foi capaz de reconhecer assentamentos com produção orgânica, forte agricultura e pecuária familiar, agroindústrias organizadas e uma grande variedade de técnicas de artesanato com uso da biodiversidade local em todas as cidades englobadas pelo projeto. Resta que sejam estimuladas atividades de associativismo, um resgate do artesanato tradicional, que os campos nativos sejam manejados de forma adequada. Uma outra linha de frente diz respeito à inclusão dos catadores nas políticas de gestão integral de resíduos, trabalho que já se encontra bem articulado no município de Uruguaiana.
Sete municípios, os que mais sofrem com o processo de arenização, foram considerados alvos prioritários do projeto. O Curicaca pretende contribuir tendo como referência a longa atuação da ONG em atividades de educação ambiental, acompanhamento próximo de Unidades de Conservação e no resgate de práticas culturais tradicionais. Por exemplo, a recente atuação do Curicaca em Torres, junto às artesãs que trabalham com a fibra do butiá-da-praia, vai de encontro com o que se observou em Quaraí, onde uma agroindústria processa a fibra e o fruto de uma espécie de butiá local (butiá quaraimana), além de Alegrete e Manoel Viana, onde há ocorrência do butiá anão (butiá lallemantii).
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