A Coordenadora de Educação Ambiental e Cultura e de Gestão de Pessoas do Instituto Curicaca, Patrícia Bohrer, esteve presente no VI Congresso Latinoamericano de Arteterapia. Formada em arteterapia pelo Infapa – Instituto da Família de Porto Alegre, participou da mesa temática Arteterapia e Meio Ambiente, na qual apresentou o trabalho Elos entre arte e natureza: Um estudo das contribuições da Arteterapia na formação de Educadores Ambientais do Instituto Curicaca. Junto de Patrícia, dialogaram Angélica Shigihara de Lima, Angela Philippini e Denise Nagem.
No congresso, Patrícia apresentou os resultados da contribuição da arteterapia em práticas de educação ambiental em projeto desenvolvido pelo Instituto Curicaca e com o RSBiodiversidade.
Como começou o seu envolvimento com a arteterapia?
Eu comecei a fazer a formação em arteterapia em 2012 em busca de encontrar novas abordagens, novas ferramentas. Na educação estamos sempre buscando melhorar o próprio trabalho porque lidamos com pessoas, as coisas vão surgindo e temos que ser dinâmicos nesse processo. Então a busca da arteterapia foi justamente para conseguir trabalhar melhor com a arte e com as pessoas dentro da proposta da Educação Ambiental, porque através da arte, muitas vezes, afloram situações do universo interior das pessoas e, no trabalho com grupos é importante saber como melhor tirar proveito disso.
A busca dessa formação já foi pensando no trabalho com o Curicaca na educação ambiental. Eu não sabia exatamente que resultados isso iria trazer, acho que a participação nesse congresso foi bastante importante para pensar nos resultados desse trabalho, já que foi a primeira vez em que trabalhamos com a arteterapia dentro da educação ambiental de uma forma mais prática, mais consciente. Ainda é muito inicial esse processo, porque trabalhamos com planejamento, monitoramento e, avaliação para um replanejamento, então, ainda estamos no primeiro ponto deste trabalho, mas essa parada para pensar, escrever e refletir nos ajudou a tomar consciência do que vem mudando com essa nova abordagem para a educação ambiental, o que isso acrescenta, o que é importante e inspira a nossa prática.
No que difere essa abordagem da que era realizada antes?
Conseguimos ver pelo menos três coisas que já modificaram em relação ao trabalho com a educação ambiental. Uma delas seria o aprofundamento do autoconhecimento, que já é uma ênfase da educação ambiental: o desenvolvimento da autoestima, reconhecimento de qualidades, o fortalecimento de vínculos, a sensibilização, o afeto, as relações interpessoais, conseguindo focar tanto no indivíduo quanto no grupo.
Outro aspecto que é uma das coisas que a arteterapia faz muito bem é essa visão ao mesmo tempo para a pessoa e para o todo, com o mesmo cuidado, entendendo que a ampliação da consciência pode ser um processo que parte do indivíduo para o coletivo e estabelecendo as relações de interdependência. Isto é por em prática a visão sistêmica, conseguir perceber que a natureza está em cada célula do nosso corpo, em cada átomo. Perceber também que a visão sistêmica faz parte de cada grupo, que existem relações das ações do indivíduo com um contexto maior. Nesse trabalho específico, com o RSBiodiversidade, durante todo o planejamento e a execução das atividades sempre buscamos esse olhar do micro para o macro, uma análise das ações das pessoas em seu universo individual, e, simultaneamente suas influências na sua região, no estado, no país, no mundo.
Um outro aspecto que eu consegui levantar nessa primeira visão seria a importância das imagens dentro do trabalho, que são uma ferramenta muito importante para ter uma clareza maior nas discussões. Perceber o pensamento das pessoas através da imagem que é um processo mais intuitivo de expressão, sair da racionalidade e conseguir visualizar que coisas as pessoas estão querendo dizer, expressar. O uso intenso de imagens para o compartilhamento das discussões foi facilitador, como aquele grupo chegou àquela ideia. Esse trabalho exigiu bastante em relação ao posicionamento crítico das pessoas no meio ambiente, na sua atuação cidadã, e foi exigente em termos de cognição, então o uso da imagem entrou de uma maneira muito forte, e foi bastante positivo. Essa é uma outra influência da arteterapia, a expressão criativa e a capacidade de plasmar pensamentos, ideias, sentimentos.
Como tu trabalhas com a arteterapia no Curicaca? Tem algum trabalho específico? Como foi esse processo?
Estamos apenas começando. Esse trabalho foi uma adaptação da arteterapia para a educação, pensando nas formas de contribuição entre os dois campos. Tivemos a experiência de um trabalho de formação de educadores ambientais para a rede estadual de professores que envolveu 33 municípios no interior do estado e cerca de 500 educadores. Então, trabalhei no planejamento das atividades pensando nessa adaptação e pensando que não seria um trabalho estritamente arteterapeutico. O objetivo não era desenvolver processos terapêuticos com as pessoas, mas integrar valores que a arteterapia traz na formação de grupo, na criatividade, na expressão, na visão sistêmica ao trabalho da EA que nós já fazíamos, agregando essas experiências de uma forma adaptada. Ainda não propomos trabalhar a arteterapia diretamente com as pessoas, como processo terapêutico de grupo, não é essa a intenção. É conseguir usar esses instrumentos que a arteterapia trabalha no processo da EA, sempre pensando no fortalecimento de vínculos, na autoestima, no envolvimento das pessoas, na motivação e no autoconhecimento, buscando experiências cada vez mais significativas.
Como foi trabalhar esse tema no congresso?
Foi bastante interessante, porque não é um tema muito comum dentro da arteterapia. Acho que ainda não havia essa ligação entre a educação ambiental e a arteterapia, e essa discussão fez parte de uma mesa em que se discutiu de forma ampla o tema natureza e arteterapia. Existe todo um trabalho dentro da arteterapia com elementos da natureza, que é com o uso de plantas, folhas e pedras como material dentro do processo arteterapêutico. A nossa intenção não era o uso de materiais – que é válido ser explorado mais – mas era em relação a sua abordagem como meio de expressão, então a arteterapia entrou como um elemento inspirador, que é diferente da conexão que a maioria das pessoas faz na educação. Teve um resultado bem interessante e diversificado, a mesa era composta por pessoas com abordagens bem diferentes.
Quais eram as outras abordagens? O trabalho da Denise Nagem foi ligado à arquitetura, pensando na relação do espaço que se ocupa e em que se vive, como ele influencia no psíquico das pessoas. Outro trabalho, da Angela Phillipini lidou bastante com ecologia profunda e o trabalho da Angélica Shigihara foi mais voltado para o uso de materiais da natureza no processo arteterapeutico e as influências da arte. Pode-se ver que o trabalho da arteterapia é bastante amplo. Também pode-se pensar no trabalho da arteterapia no ambiente institucional em escolas, hospitais, empresas ou com o envolvimento terapêutico de indivíduos e grupos espontâneos.
Em que outras áreas a arteterapia poderia trazer efeitos positivos? Estamos fazendo isso na educação, mas existem trabalhos dentro de hospitais, CREAS, asilos por exemplo. São várias possibilidades que a arteterapia permite. Esse congresso, falava em relação com outras culturas, o multiculturalismo, as relações simbólicas e influências desses saberes em diálogo. Podemos pensar em uma visão desse ponto do Congresso a diante, a arteterapia pode ser trabalhada com outros grupos, explorando essa diversidade e suas riquezas. E no Brasil, como tu vês o espaço da arteterapia no contexto nacional? Acho que vem crescendo bastante. A tendência é os espaços se abrirem mais, que essas visões sejam mais aceitas, assim como ocorre com outras terapias alternativas nas quais as pessoas já vêm comprovando resultados concretos. Então, à medida que isso vai sendo aplicado com resultados elas vão criando mais credibilidade. Muitos psicólogos trabalham com a arteterapia ou recomendam o trabalho associado, embora como terapia ela possa ser exercida por pessoas com a formação em artes também, pois a formação inclui disciplinas interdisciplinares. Ela foi reconhecida como uma prática do SUS recentemente, então estamos em uma boa caminhada. E com relação ao curicaca, existem planos para expandir essa abordagem? Esse foi o primeiro trabalho que fiz com a arteterapia, mas a parceria com o Curicaca é desde sempre, do coração. Já fiz vários trabalhos diferentes com o Curicaca, com patrimônio imaterial, trocas de saberes, vídeos... é sempre um aprendizado. Tem sido muito bacana essa oportunidade de trabalhar e propor coisas diferentes e ver esses retornos. É muito rico. Acredito que a partir dessa avaliação, podemos intensificar essa abordagem dentro da EA. Assim como intensificamos jogos cooperativos e outros métodos na abordagem da Educação Ambiental. Não penso como um conjunto de atividades a ser incorporado, é muito mais do que isso. É em função de ter princípios comuns, que acrescentam e inspiram para o trabalho. Acho que a arteterapia vai entrar no processo que não tem fim dessa metodologia da EA, que está sempre se modificando, sempre crescendo e buscando se aprimorar.
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