A oficina teve a participação de diversos especialistas na conservação do maior felino da América do Sul.
Nos dias 10 e 11 de julho o Instituto Curicaca reuniu em Porto Alegre diversas organizações para planejar o monitoramento e análise de ameaças à conservação da onça-pintada e de grandes mamíferos na porção meridional do Corredor Trinacional do Alto Paraná. A iniciativa faz parte de uma parceria com o WWF-Brasil e abrangerá, inicialmente, a área do Parque Estadual do Turvo (RS), do Parque Provincial de Moconá (ARG) e das Reservas da Biosfera da Mata Atlântica (BR) e de Yaboti (ARG). Além da equipe das duas ONGs, vieram técnicos e pesquisadores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do RS, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Brigada Militar.
“Ações feitas no entorno do parque que evitaram que os animais fossem mortos. Esse trabalho é determinante para garantir a não retirada dos indivíduos. É preciso integrar, se envolver, dar alternativa econômica à comunidade da região”.
O planejamento ocorreu alinhado com as estratégias nacionais do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros - CENAP/ICMBio. Ronaldo Morato, coordenador do Centro, apresentou o plano de ação nacional para onças na Mata Atlântica, que identificou a caça como um importante vetor de mortes desses animais. Ele comentou que foi feito um “combate ofensivo da caça na região do Parque do Iguaçu, uma parceria do Parque Nacional brasileiro e do Parque Nacional argentino”. Outra linha do plano são as atividades de educação ambiental e a criação e uso do selo “amigos da onça” por produtores nas cidades que beiram os limites da floresta em Iguaçu.
Paula Elisa Horn, Gisele Jardim Bolze e Lana Resende de Almeida, estudantes de mestrado e doutorado em biologia na UFRGS, compartilharam com o grupo os resultados das pesquisas que realizaram no Parque do Turvo. A onça e suas presas foram flagradas nas armadilhas fotográficas. As meninas destacaram que as onças também frequentam a área usada para turismo no parque e que perceberam o quanto é forte presença da caça na região. “As onças cruzam o parque inteiro, caminham pelas estradas e não se sabe o quanto isso pode ser prejudicial, pelo risco do atropelamento e da falta de controle de velocidade”, preocupam-se as pesquisadoras.
Alexandre Krob, coordenador técnico do Curicaca que facilitou o planejamento, trabalhou em grupos temáticos e plenária tornando a discussão mais específica. Foi feita a definição das espécies alvo de conservação, a área de abrangência do monitoramento e a definição das ameaças conhecidas e potenciais. O planejamento trabalhou três objetivos: monitorar e analisar as ameaças; fortalecer a inteligência e a fiscalização para melhorar o controle; e ampliar as cooperações e as políticas específicas para a conservação da onça e outros grandes mamíferos na região. Outra contribuição do Curicaca é o desenvolvimento de uma ferramenta de ciência cidadã para ajudar no monitoramento das ameaças, que foi apresentada pela estagiária Letícia Bolzan. A proposta é que isso vire um aplicativo para uso dos visitantes do Parque.
Os participantes saíram motivados com o resultado do planejamento que, diferentemente do usual, saiu na forma de um documento enxuto, objetivo, com poucas, mas especialmente as necessárias ações para mudar a realidade. Os próximos passos serão da formalização dos acordos de cooperação interinstitucional, aperfeiçoamento da estratégia com o envolvimento do guarda-parque argentinos, que não puderam comparecer, apresentações locais e regionais e ampliação dos envolvidos. Cada um dos que estiveram presentes saiu com suas responsabilidade, seja como articulador ou colaborador na implantação das ações. Peter Crawshaw, uma referência na história de conservação das onças, sintetizou bem os resultados na sua avaliação final: “fiquei preocupado que esse pudesse ser mais um daqueles planejamentos que acabam na gaveta, mas saio daqui com uma visão otimista e bastante motivado”.
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