Na última reunião do Conselho Consultivo do Refúgio da Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, ocorrida no último dia 27 de maio, o Instituto Curicaca manifestou-se contrário à localização proposta para a implantação de um secador de grãos, demanda do Assentamento Filhos de Sepé, numa área que está a menos de 1000 metros dos limites do Refúgio. A questão já havia sido tratada na última reunião e a concessão de anuência para que o empreendimento agroindustrial seja instalado no local originalmente previsto foi aprovada pelo Conselho.
O Instituto Curicaca, a Fundação Zoobotânica (FZB) e o Universidade Federal do Rio Grande do Sul tinham como proposta inicial que fosse escolhido um outro local para o secador, mais distante do Refúgio, visto que a sua construção não está dissociada de impactos ambientais e perturbações à fauna. Trata-se de uma estrutura com quatro silos, onde vai haver concentração do transporte de grãos, além de impacto sonoro e de iluminação, que pode afugentar espécies em extinção como o cervo-do-pantanal, cujos últimos indivíduos são encontrados na região dos Banhados, na Bacia do Gravataí.
Para que a espécie resista é necessário que os indivíduos que ocupam o Refúgio tenham contato com outros que habitam os banhados do Gravataí, o que só pode ser garantido com corredores ecológicos. Os corredores são uma estratégia de conservação que têm por finalidade reconectar ambientes naturais que se encontram isolados em função do processo de degradação da natureza. A forma como o ambiente é ocupado pelos seres humanos cria barreiras ao deslocamento dos animais nos seus próprios habitats originais e, no caso da fauna ameaçada de extinção, esse isolamento pode comprometer a reprodução e continuidade da espécie.
No Banhado dos Pachecos, o secador será instalado em cima de um corredor ecológico, desenhado pelo PROCERVO. Uma vez que o cervo-do-pantanal é muito sensível à presença humana, áreas com maior atividade tendem a dificultar ainda mais o deslocamento dos indivíduos entre as zonas fragmentadas.
Todas as instituições presentes na reunião, inclusive os assentados, reconheceram que aquele não seria o melhor local para a instalação do secador, porém argumentaram que o licenciamento seria ameaçado com a busca de uma outra área e apresentaria riscos de perda do recurso captado junto ao BNDES. Caso o secador não fosse implantado, poderia haver prejuízo para a produção de arroz orgânico no assentamento, atingindo 140 famílias envolvidas no processo, o que não é interesse de nenhuma das instituições do Conselho.
O Gestor da Unidade de Conservação manifestou preocupação com os impactos no corredor ecológico e na conservação do cervo, mas também se sensibilizou com os apelos sociais e econômicos dos assentados preferindo deixar que o conselho decidisse o que fazer. Portanto, como ação mitigadora, o Conselho estabeleceu pelo menos duas condicionantes para a implantação do secador de grãos: que o projeto a ser licenciado preveja mecanismos de controle do fluxo de caminhões atravessando o corredor nas imediações do empreendimento, além de medidas que reduzam sensivelmente o impacto das emissões luminosas e de ruídos, de forma que não sejam tão nocivas à fauna local.
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