Além de abrigar um dos cursos d’água com maior influência na vida de milhões de pessoas residentes da região metropolitana de Porto Alegre, a bacia do rio Gravataí é formada por um conjunto de banhados que regulam a presença da água no ecossistema e fazem com que ela não se dissipe tão rapidamente. Na década de 70, com o objetivo de aumentar a produção de arroz, foram criados diversos canais de drenagem na região. Esses canais funcionam de forma contrária aos banhados, fazendo com que a água flua mais rapidamente, o que tem causado grandes problemas de seca no local, principalmente no verão.
Com isso, diversas instituições e governos têm defendido a construção de duas barragens para a retenção da água e a solução dos problemas da seca. A proposta, entretanto, ao invés de reter a água de forma gradual – como acontece naturalmente – formaria lagoas, podendo causar ainda maior impacto sobre os banhados, ecossistema que regula diversas formas de vida.
O assunto foi pautado pelo Instituto Curicaca na reunião do Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, que contou com a presença do diretor da Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan), Ricardo Cezar. Segundo ele, apesar das interpretações oportunistas de diversas fontes de informação, que apontam a construção das barragens como uma questão já definida, a realização da obra ainda está sendo debatida pela Fundação.
Dos R$500 milhões destinados ao rio Gravataí pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), R$50 milhões estão designados a projetos e estudos para garantir a eficácia e a viabilidade das obras. Para isso, foi contratado o professor Carlos Tucci, hidrólogo reconhecido internacionalmente por sua experiência na gestão de recursos hídricos. Ricardo informou que os estudos estão em curso, mas não indicou um prazo para a definição da proposta.
Além disso, a representante da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM) no Comitê, Maria Isabel Chiapetti, comunicou que a licença ambiental para a construção das barragens já foi negada duas vezes pelo órgão em outras oportunidades. Isso aconteceu, segundo ela, pelo impacto negativo que as obras causariam no Banhado Grande e no Banhado dos Pachecos.
O coordenador técnico do Instituto Curicaca, Alexandre Krob, questionou a Metroplan sobre a possibilidade de aplicação dos recursos na recuperação dos banhados e dos serviços ambientais que estes prestam ao manter o equilíbrio do sistema hídrico, o que seria a solução mais sustentável. Segundo Ricardo, entre as opções consideradas por Tucci, estaria a de conduzir o processo de renaturalização da área.
Renaturalização
Como o próprio nome explica, a renaturalização trata de um conjunto de intervenções que tem o objetivo de trazer as condições originais ao corpo natural degradado e, com isso, resgatar suas funções ecológicas perdidas. Esta abordagem tem sido bastante utilizada na Europa, Japão, Estados Unidos e, muito recentemente, também no Brasil, como no caso do Rio Piracicaba, em São Paulo.
Quando um rio é transformado em canal, como aconteceu no Gravataí, a água deixa o sistema mais rapidamente, causando secas na região da bacia hidrográfica e enchentes na região abaixo, neste caso, o Delta do Jacuí. Um amplo conjunto de canais de irrigação distribuídos por toda a região acelerou ainda mais a saída da água. Em função disso, a avaliação do que fazer é complexa e delicada. Outras medidas inadequadas poderiam tornar a situação ainda mais crítica.
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