Incluídos pelo Ministério do Turismo entre os “Parques da Copa”, Aparados da Serra e Serra Geral têm previstos enormes investimentos para o asfaltamento de quatro estradas que dão acesso às Unidades de Conservação. Atualmente, a CS-012, que liga a cidade de Cambará do Sul à entrada do Parque Serra Geral, no canyon da Fortaleza, se encontra num estágio mais avançado do processo de pavimentação, com cerca de 16km finalizados. O caso da RS-427, ainda que longe de ter sua pavimentação concluída, é mais preocupante, já que a estrada liga Cambará do Sul à Praia Grande, em Santa Catarina, passando pelo Itaimbezinho, e é o caminho mais curto para se chegar a Torres e ao litoral sul. Se for asfaltada, deve se tornar preferência entre os motoristas que hoje fazem este trajeto pela Rota do Sol.
A pavimentação da RS-427 é justificada economicamente por melhorar o acesso às indústrias, em especial as da cadeia produtiva da celulose, papel e madeira, que correspondem a 90% da economia da Cambará do Sul. Em meados de 2007 os riscos ambientais deste asfaltamento já estavam sendo apontados em audiência pública, quando o Instituto Curicaca contribuiu com um parecer técnico que apontava como inviável que a obra fosse realizada da maneira prevista, inclusive por colocar em risco uma espécie de anfíbio endêmica.
O Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da UFRGS, que monitora o índice de atropelamento de vertebrados nessas rodovias desde 2012, instalou recentemente na CS-012 um contador de fluxo que será capaz de medir o aumento em quantidade de veículos que os novos trechos asfaltados trarão para a região. Os pesquisadores pretendem compreender o quanto o aumento de fluxo provoca maior atropelamento. Os resultados poderão evitar problemas em outras áreas protegidas, mas para os Aparados da Serra e Serra Geral não trarão benefícios diretos, pois no afã da Copa, a pavimentação das estradas foi priorizada em detrimento de melhorias que poderiam ser realizadas na estrutura e organização interna dos Parques e, assim, contribuir para seus objetivos de conservação da biodiversidade.
Estradas e Unidades de Conservação
O conflito entre estradas e Unidades de Conservação é grave, antigo e muito mal encaminhado. A primeira vez que a ONG se envolveu com ele foi nos Aparados da Serra em 1999. Depois disso, a mesma batalha foi travada na Reserva Biológica Mata Paludosa, em função da Rota do Sol, no Parque Estadual de Itapeva, por causa da Avenida Interpraias, no Parque Nacional de Iguaçu, devido à Estrada do Colono. Cada caso tem suas especificidades, mas dois princípios chaves têm sido desconsiderados: uma estrada não pode cruzar uma Unidade de Conservação de proteção integral; e as estradas que tangenciam Unidades de Conservação devem ter, no mínimo, pavimentação diferenciada, redutores de velocidade e passagens de fauna.
Recentemente, foram retomados os esforços setoriais para que a Estrada do Colono seja reaberta no Parque Nacional de Iguaçu. A nova investida foi mais além do que o esperado e poderá causar não só prejuízos àquele Parque e sua biodiversidade, mas desencadear uma série de retrocessos em outras áreas. Isso, porque tramita no Congresso uma alteração no Sistema Nacional de Unidades de Conservação incluindo a estrada parque como um novo tipo de área protegida. A proposta é extremamente oportunista e maliciosa, sem fundamentação técnica que a justifique e sem qualquer apoio do setor ambiental. Se for aprovada, deverá reabrir várias demandas para estradas cruzando Parques e Reservas e trazer prejuízos enormes à biodiversidade brasileira. O NERF estima que apenas 10% da fauna atropelada em estradas pode ser detectada pelos pesquisadores. Para ter uma ideia do que isso significa, em um ano de monitoramento na Rota do Sol, no Rio Grande do Sul, num trecho de 66km foram encontrados 834 animais atropelados.
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