Concorrendo com 156 propostas no Edital aberto no primeiro semestre pela Fundação O Boticário, o Instituto Curicaca foi contemplado no final de junho com dois projetos dentre os 17 aprovados, os únicos para o Rio Grande do Sul. O primeiro, “Conservação do Sapinho-de-barriga-vermelha” tem como responsável técnico o professor da UFRGS Márcio Borges Martins e execução em campo da bióloga associada Michelle Abadie. O segundo, “Conservação de espécies do PAN pela gestão da praia em frente ao Parque Estadual de Itapeva e na área de influência do REVIS Ilha dos Lobos” está sob a responsabilidade do agrônomo Alexandre Krob, coordenador técnico da ONG, e terá co-execução de campo com a bióloga Joyce Baptista. Ambos preveem um cronograma de três semestres e começam a ser realizados já em setembro de 2014.
Conservação do sapinho-de-barriga-vermelha
Os sapinhos-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus) são uma espécie endêmica do Rio Forqueta, em Arvorezinha, que ocupam uma faixa estreita de 700m ao longo das margens do rio, no Perau de Janeiro.Em março de 2012 o Curicaca interviu à FEPAM pedindo a revisão de uma decisão que fazia avançar para fase de licença de instalação a Pequena Central Hidrelétrica Perau de Janeiro. Naquele momento diferentes pareceres e manifestações, emitidos por órgãos como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), já indicavam que o funcionamento da PCH colocaria em extinção o sapinho-de-barriga-vermelha. Na sequência, tivemos uma grande vitória, com o indeferimento da licença de instalação emitido pela FEPAM através de parecer técnico. Segundo a avaliação ambiental do órgão, a PCH se encontrava em zona de alta criticidade ambiental, numa das cabeceiras do rio, área que está diretamente associada à conservação da porção superior do rio e de suas bacias de drenagem.
Os sapinhos-de-barriga-vermelha utilizam como sítio reprodutivo pequenas poças formadas nas margens rochosas e a disponibilidade dessas poças varia periodicamente, dependendo do nível do rio. As ameaças geradas pela perda de qualidade do hábitat, associadas às pressões sobre os adultos reprodutivos (como o pisoteio de turistas e de gado e a captura ilegal dos indivíduos), por si só geram uma fragilidade extrema à única população conhecida da espécie.
O projeto prevê a realização de estudos focados na descrição de parâmetros-chave, como estimativa populacional, viabilidade genética da população, biologia reprodutiva, uso de hábitat, além da busca por novas populações. Pretende também uma avaliação com fins de criar uma Unidades de Conservação na região, de caráter público ou privado, conforme os estudos apontem como a melhor estratégia.
Pela gestão da praia em frente ao Parque Estadual de Itapeva e na área de influência do REVIS Ilha dos Lobos
O segundo projeto selecionado pelo Boticário, voltado para espécies-alvo do Plano de Ação Nacional de Conservação de Mamíferos Aquáticos e de Aves Limícolas Migratórias, será realizado no Litoral Norte, em Torres, abrangendo duas Unidades de Conservação com as quais o Curicaca tem proximidade, o Parque Estadual de Itapeva e a REVIS Ilha dos Lobos. A partir dos resultados serão propostas ações para compor um programa de gestão da praia no plano de manejo do PEVA e as ameaças detectadas à conservação dos lobos-marinhos serão apresentadas ao ICMBio, Conselho Municipal de Meio Ambiente de Torres e ao Ministério Público Federal, como subsídios técnicos que confirmem a necessidade urgente da elaboração do plano de manejo do REVIS e da criação de seu conselho consultivo.
Com uma extensão de 120km, a praia que faz parte da zona de amortecimento do PEVA é uma importante área de alimentação e reprodução de organismos costeiros, recebendo uma grande fauna migrante como lobos e aves marinhos. Por outro lado, o ecossistema de praia recebe uma enorme pressão antrópica devido ao aumento populacional nos meses de verão e do impacto de empreendimentos associados. No momento, o plano de manejo do Parque está em revisão, com a participação do Instituto Curicaca, que vem buscando provocar uma maior atenção à praia e à proteção de sua biodiversidade.
O Instituto Curicaca envolveu-se com o PEVA já no processo de criação, em 2002, com manifestações técnicas sobre os limites e mobilização social pela sua criação. A ONG defendeu a inclusão da faixa de praia como espaço protegido pela UC, devido ao seu significado na alimentação e repouso de aves migratórias, bem como seu uso para descanso pelos pinípedes usuários da Ilha dos Lobos. Infelizmente, a praia não integrou o Parque em função de uma negociação entre a SEMA e as forças políticas do município de Torres. No plano de manejo da UC, elaborado em 2005, a praia ficou na zona de amortecimento, como área de especial interesse ambiental e com restrições de uso. Na prática, o Parque nunca conseguiu uma gestão efetiva da praia. Em 2008, o Curicaca protagonizou um acordo com os pescadores definindo formas sustentáveis de uso da praia. Em 2013 foi convidado pela SEMA para participar revisão do Plano. Nesse ano, também intensificou sua constate demanda ao ICMBio pela elaboração do Plano do REVIS Ilha dos Lobos.
Além de bastante freqüentada por turistas a ilha sofre a influência de atividades pesqueiras, o que reduz a disponibilidade alimentar aos mamíferos marinhos. Outra prática popular na região é o tow-in. Em épocas de ondas gigantescas, os surfistas são rebocados até a entrada das ondas por jet-skis e os impactos ambientais são vários, como a liberação de óleo/combustível no mar, comprometimento das ovas dos peixes, risco de colisão com a fauna etc.
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