Algumas ações são cruciais para compreender as circunstâncias e conservar a espécie
Os estudantes de biologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Natália Dallagnol Vargas e Matheus Kingeski, estavam no Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, em Viamão (RS), quando sentiram um cheiro forte de carniça. Continuaram caminhando pelo Refúgio e encontraram, na margem de um remanescente de Mata Paludosa, um cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) morto. O cervo foi encontrado no dia 15 de setembro de 2013 e gerou reflexões em relação à causa da morte. O gestor da Unidade de Conservação, André Rosa, em uma análise preliminar, inferiu que a morte do cervo teve causa natural. Devido ao avançado estágio de decomposição, o cervo não foi levado para autópsia, procedimento necessário para definir o motivo da morte e auxiliar nas pesquisas do Programa de Conservação do Cervo do Pantanal (PROCERVO).
A tarefa de analisar a morte de animais em vida livre nem sempre é fácil, principalmente quando a carcaça do animal é encontrada muito tempo após sua morte, pois se perde a possibilidade de fazer exames mais detalhados. Segundo José Maurício Barbanti, coordenador do Núcleo de Pesquisa e Conservação de Cervídeos (NUPECCE) da Universidade Estadual Paulista (UNESP), alguns procedimentos são indispensáveis ao encontrar um cervídeo morto. A primeira ação é fotografar tudo, tanto a carcaça do animal, quanto o ambiente em que foi encontrado. A carcaça deve ser analisada mais detalhadamente, tentando encontrar perfurações, lesões externas ou secreções. Se possível, um veterinário deve ser acionado para realizar a necropsia. Com a ausência de um veterinário, o técnico de campo deve abrir o animal e fotografar a cavidade e os órgãos internos para que um veterinário patologista possa avaliar posteriormente. O uso de luvas e máscaras é essencial para efetuar estes procedimentos. Depois dos devidos diagnósticos, conservar a pele e o esqueleto do animal é de suma importância para estudos futuros.
A brevidade com que se encontra a carcaça de um cervídeo é fundamental para descobrir a causa de sua morte. Muitos pesquisadores têm colocado colares transmissores que emitem um sinal de mortalidade em animais. Isto pode auxiliar no diagnóstico destas mortes por abreviar o tempo entre a morte e uma possível necropsia. Para José Maurício Barbanti, entender as causas de mortalidade em populações ameaçadas, como a do cervo-do-pantanal do Rio Grande do Sul, é primordial para avaliar quais os problemas enfrentados por estas populações e sua capacidade de se sustentar ao longo do tempo. A extinção de uma população, na prática, sugere que há mais mortes do que nascimentos, por isso entender a razão das mortes ajuda na sustentação da espécie.
Embora haja estas recomendações, não há uma orientação padrão, específica para casos como estes. Alexandre Krob, Coordenador técnico do Instituto Curicaca e do Programa de Conservação do Cervo do Pantanal (PROCERVO), diz que a situação serviu para provocar o programa a criar, com urgência, uma orientação formal para esses acontecimentos. Estima-se que existam na região não mais do que duas dezenas de indivíduos, que têm dentre suas ameaças a caça, a degradação de seu hábitat natural, a transmissão de doenças pelo gado, a intoxicação por agrotóxicos e o ataque de cães selvagens. A espécie está criticamente em perigo no Livro Vermelho do Rio Grande do Sul e entender a causa da morte deste animal é muito importante para direcionar as pesquisas do PROCERVO e priorizar entre as ações de conservação da espécie que vem sendo conduzidas na região.
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