Um pouco antes de iniciarmos a subida da Rota do Sol algumas estruturas metálicas que formam pontes sobre a estrada causam estranheza. Quando surgiram faz uns anos, os noticiários deram conta de causar ainda mais confusão, sem ajudar a bem explicá-las em meio
a tantas besteiras ditas nas redes sociais. Foram construídas para permitir a travessia de anfíbios arborícolas ameaçados de extinção de um lado para outra da floresta atlântica que é rasgada pela estrada.
Nossas herpetólogas apresentaram ao cinedocumentarista ambiental Chris Scarffe uma espécie de comportamento único. Sua beleza está entre as maiores do grupo aqui no Sul do Brasil e seus movimentos são ainda mais impressionantes. Ela mais parece um bicho-preguiça ao avançar lenta, graciosa e tranquilamente. Enquanto uma pata anterior procura vagarosamente outro ponto para agarrar, outra posterior se desprende sem muita pressa para também pegar um galhinho.
Olhar para a palma de suas patinhas é como viajar no mais belo mistério morfológico que a natureza oferece no fundo de cavernas, nos abismos do mar. É como se tivesse um dedo opositor feito os macacos, o que lhe permite agarrar. Nesse caso, estamos numa floresta densa e muito úmida, a mata paludosa, próxima à Reserva Biológica de mesmo nome.
Nós do Curicaca também fizemos ali nessa região, um dos poucos locais onde a espécie ocorre, nossas costumeiras macaquices desafiando judicialmente os gestores da área protegida e o departamento estadual responsável pela Rota do Sol a planejarem e colocarem estruturas que evitassem o atropelamento da fauna. Buscávamos dar funcionamento aos nossos microcorredores ecológicos.
Quase duas décadas depois, passagens aéreas e subterrâneas, cercas especiais e controladores de velocidade começam a dar resultado, mas nossa admirável perereca-macaca (Phyllomedusa distincta) ainda espreita entre os galhos por uma solução que lhe seja eficaz.
Nossa próxima parada é a borda do planalto, lá no topo.
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