Na cultura Kaingang, o sapo é a boca da noite. É também dali a riqueza de insetos. Foi o que nos contou o indígena Douglas Rosa, na troca de saberes sobre conservação de anfíbios e mudanças climáticas
- institutocuricaca

- 22 de set.
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Insetos e estrelas se cruzam na escuridão que o sapo anuncia. Vagalumes e cadentes, poeira cósmica, via Láctea, coaxam sapos e pererecas para a imensidão salpicada.

As estrelas ainda estarão lá quando já não estivermos aqui. O clima é como o movimento do oceano, a corrente segue com força imparável. As mudanças de hoje são o fruto que cultivamos por décadas. Hoje, estamos apenas tentando tirar o pé do acelerador de um carro sem freio. A mensagem é nua e crua da climatologista Venisse …
A boca da noite está em risco. É preciso ver, para que a noite exista. Os olhos, para a boca da noite estão em risco; são piscadelas.
Endemismo. Que coisa pequena? E efêmera!
Muitos anfíbios vivem em lugares restritos, como o sapinho-da-barriga-vermelha. Lugares pequenos são como um bebê esquecido em meio à tempestade climática. Basta um raio, uma rajada de vento forte, uma tromba d’água e… Anfíbios são muito afetados pelas mudanças climáticas. Caroline Zank, herpetóloga, prevê muita extinção em pouco tempo.
Da plateia perguntam, e os agrotóxicos? Tudo está interligado.
São eles que estão sumindo com as estrelas? O sapo já não vê vagalumes, você vê? Se vê tem medo. São tóxicos? São agro? E rápido, fecha a boca, desfazendo a noite.
O sapo já não prevê a chuva com a antiga certeza? Tu prevês? Já previu? Já se esqueceu da chuva, do céu, da natureza? Ainda é tempo!
Nas terras indígenas, têm sapos, tem resiliência climática, tem biodiversidade em comunhão com modos de vida. As terras Kaingang têm muita floresta. As terras Kaingang têm muita invasão. A defesa dessa terra é a luta do indígena, do sapo, da noite, da chuva que busca mansidão… e não é mesma do branco não???
Ilustração: Patrícia Bohrer


